VII Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde

O VII Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde é um espaço para trocas de informações e saberes entre os adeptos da tradição religiosa afro-brasileira, gestores, profissionais e conselheiros de saúde.

O Seminário pretende também estimular discussões sobre a implementação e monitoramento da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e suas intefaces com outras políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas no SUS.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Terreiros: espaços promotores de saúde





As religiões de matrizes africanas, conforme sua origem na África, localização geográfica no Brasil e interação com outros grupos não negros(índios e brancos) tomam diversas denominações: Umbanda, Candomblé (em suas variações de angola, ketu, jejê, ijexá), Tambor de mina, Tambor de caboclo, Terecô, Encantaria, Jurema, Xangô, Xambá e Batuque.


O número de terreiros continua crescendo, e segundo pesquisadores já ultrapassam a marca de 90 mil espalhados no país. Apesar da entrada dos brancos nessa tradição religiosa e de pessoas da classe média, a população dos terreiros ainda é constituída, em sua maioria, de negros e negras, de baixa renda, pouca ou nenhuma escolaridade, moradores de subúrbios e periferia. Esse perfil da população dos terreiros certamente interfere no processo saúde-doença, uma vez que a saúde e a doença são determinadas pelo modo como cada sociedade se organiza, vive e produz, tendo uma relação estreita com os determinantes sociais em saúde.


A saúde, também, sempre foi uma das preocupações do povo de terreiro pois sendo o corpo a morada dos deuses e deusas, este deve estar sempre bem cuidado. Os terreiros possuem conceitos de saúde e doença de acordo com a sua visão de mundo, e, segundo Makota Valdina "a cura das doenças na perspectiva das religiões afro-brasileiras envolve a ação dos dois mundos: material e imaterial, visível e invisível, nessa tradição nada ocorre sem a interação desses dois mundos".


Para o "povo de santo", a doença é considerada um desequilíbrio energético, podendo ser de ordem física, mental ou espiritual. "Apesar de sabermos que muitas doenças precisam ser tratadas pela medicina dos cientistas, se a pessoa é iniciada, quase sempre busca antes o terreiro para se curar e sempre busca a cura dos dois lados", lembra Makota Valdina. Ela nos informa que as práticas terapêuticas dos terreiros não anula as ações realizadas pela medicina hegemônica, muito pelo contrário, as práticas de saúde e os saberes se complementam.


Nos encontros e reuniões realizados pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde deparamos com iniciados nos terreiros que não foram bem acolhidas pelo SUS/Sistema Único de Saúde, outros reclamam das filas para marcação das consultas ou demora na realização dos exames, têm aqueles que desconfiam do atendimento e guardam muitas histórias de descaso e desatenção para contar. Mesmo assim, verificamos que uma grande parcela do povo negro e povo de terreiro conta somente com os serviços oferecidos pelo SUS e que garantir o acesso e a qualidade do atendimento e dos serviços tem sido uma das preocupações da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde.


É importante destacar que o modelo de saúde praticado nos terreiros está alicerçado em uma visão de mundo onde o cuidado, o acolhimento, a cumplicidade, a parceria, a relação com a natureza, formam uma rede de atenção e promoção da saúde que pode servir como base para as práticas de saúde no SUS/Sistema Único de Saúde.


As práticas terapêuticas dos terreiros tem como pressupostos: a escuta, o toque, o aconselhamento e a solidariedade, mostrando um diferencial na qualidade de atendimento, proporcionando bem estar e a vivência do acolhimento. Esses pressupostos vivenciados nos terreiros certamente têm forte relação com a Política Nacional de Humanização do SUS.


Os terreiros, foram durante muito tempo, um dos espaços privilegiados de acolhimento para a população negra sendo considerados espaços de resistência cultural negra por resguardar valores simbólicos e um dos mais importantes patrimônios culturais brasileiros.

Um comentário:

  1. PARABÉNS A REDE NACIONAL DE RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS E SAÚDE PELO RESPEITO PARA COM O POVO DE AXÉ.

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